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Os pais não deveriam nos amar infinitamente?



  Eu tenho que começar a tirar algumas culpas de mim que na verdade são suas.
Eu tenho que deixar de carregar os seus fardos e me fazer forte o suficiente para superar todo o trauma que você me causa faz anos.
Primeiro, vou fazer um juramento de dedinho comigo mesma, nunca mais, repito, nunca nunquinha, nunca mesmo, repito mais forte, quem sabe assim eu acredito. Nunca mais, vou deixar você tirar nada de mim, e não vou me culpar pelas coisas que você me tirou.
     Aí eu percebo que é quase impossível levar isso pra minha vida, porque desde sempre você tem tirado coisas de mim, primeiro você tirou meu melhor amigo, então você me tirou experiências que garotas da minha idade deveriam ter tido, você me deu problemas que garotas da minha idade não deveriam ter, você me deu preocupações que eu não deveria me preocupar. Daí você me tirou a autenticidade, a ideia de merecimento que eu deveria estar no meio de todo mundo e nunca, nunca mesmo, me sentir deslocada, mas eu me sentia.
      Então você me tirou a possibilidade de trazer pessoas para a minha vida, porque uma hora ou outra, era óbvio que você como granada, afetaria elas, explodiria bem perto delas e elas me despedaçariam, porque elas também poderiam achar, como eu achava, que você era minha culpa, você era o meu problema, quando na verdade você não é. E então, você me tirou o significado de coisas que já estavam firmadas há anos e então eu vi que eu não tinha certeza de nada e que você nunca me deixaria ter.
     Eu juro, juradinho que eu não vou mais permitir que você me estrague mais do que tem estragado e juro juradinho que não vou ficar por você, mesmo quando passei anos achando que deveria ficar, não deveria. Eu juro, juradinho que eu nunca mais vou ter pena dos problemas que outras pessoas lhe causaram e agora você joga em mim, não são desculpas, você não pode simplesmente achar que porque sua vida foi um inferno você pode transformar a minha também, simplesmente não é justo. Você sabe disso.
Eu juro, juradinho que eu nunca, nunca nunca nunca mais vou me ofender quando você me disser que vive sem mim, eu sei que vive, aliais, seria impossível eu listar todas as pessoas do mundo que podem perfeitamente viver sem mim, mas você não deveria, você deveria dizer justamente ao contrário, porem eu jurei juradinho que eu não ia me ofender pelas vezes que você me mandou embora da sua casa, você sempre teve seu direito de magoar a mim quantas vezes quisesses, não importa, sempre ia ser meu problema, minha culpa.
     Juro, juradinho que isso não é amor e não vou jamais romantizar a forma que você me trata e por isso também jamais vou aceitar que alguém me maltrate dessa forma e diga a mim que isso é amor, eu sei agora que não é. Eu juro que eu nunca, nunquinha, vou colocar em você os meus problemas mentais, mesmo quando você tenha feito tempestades em minha cabeça e desordem no meu coração, juro que assumo a culpa por toda minha melancolia sozinha, é tudo meu, é tudo intenso, mas juro que não foi você.
     Eu juro, juradinho que vou fazer o que você quer e eu vou embora, apenas me deixe se organizar direitinho, porque ainda dói muito te deixar assim de fininho no lugar que você disse que eu ia ser feliz e foi onde eu cresci assim
forte
quebrada
desajustada
e ainda eu.

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