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1001 textos sobre isso





 -então, fale tudo.

- tudo? - estremeci.

- Claro, afinal, você disse que precisava de alguém para desabafar. Você chamou. Eu vim.

- Certo, claro, claro. Acho que não queria mais sugar meus amigos com histórias sobre esse término. Acho que eles me achariam meio doida por não superar ele. Mas, ainda há tanto entalado. Eu realmente não sei o que fazer com tanto.

- Conte então.

- Ok. - pigarreio.- primeiro, eu odeio o fato que tudo foi perfeito no começo. Ele me chamava pelo sobrenome, como os caras bonitos e populares faziam com as mocinhas nos livros que eu lia. Eu me derretia toda vez que ele me chamava pelo meu segundo nome, soava doce e importante. Eu não podia acreditar na sorte que eu tinha. 

- Isso parece legal.

- E aí eu comecei a pensar: cara, meus amigos devem ter muita inveja disso tudo, porque era inevitável não admirar a gente. Ele me trazia presentes acompanhado de remédio quando eu ficava doente, ele me dava abraços por trás que me acolhia como uma casa. Ele me amava de um jeito que eu não sabia que era possível amar. Eu amei ele, eu o amei de uma forma quase doída demais para suportar. Acho que ainda amo.

- Ama?

- Não sei, talvez. Parece que fico dividida entre raiva e amor. Eu o odeio por ter me deixado, mas tento imaginar um cenário em que a gente tenha dado certo e você tem que ver… é perfeito.

- Mas não deram.

- Não demos. 

- Por isso eu estou aqui. Repito, você me chamou e eu vim.

- Você me acha bonita? Inteligente?

- Isso é relevante pra gente?

- Não sei, talvez. Porque com o tempo eu passei a sentir que não era. 

- Por que sentiu isso?

- Porque ele me deixou com a  sensação de que não posso ser amada a longo prazo. Não tô dizendo que a culpa foi dele. Não, nem um pouco. Talvez tenha sido minha mesmo de não ser amável. Eu não sou amável, sabia?

- Eu…

- Eu descobri há uns dias que não sou amável, tudo foi ficando mais claro, o porquê de eu sempre me sentir na sombra de outra pessoa, o porquê de eu ter feito tudo pra ele ficar e ele preferiu ir embora. Mesmo quando eu precisava dele. Nossa… eu precisava muito dele. Eu precisava dele pra caramba. Eu queria mais uns meses com ele. Acho que me faria bem.

- Mesmo sabendo que um dia ele tinha que ir?

- E quem não tem? Você não viu quem eu perdi? Todo mundo vai embora. Mas, precisa ir todo mundo de uma vez? 

- E o que você faria quando ele fosse?

- Acho que o que eu tô fazendo agora. Sobreviveria, tô sobrevivendo, sinto falta dele, penso em ligar, em mandar mensagem… penso em perguntar sobre a família dele. Mas… não faço… estou sobrevivendo sem ele. Tentar superar ele é a coisa mais difícil que já fiz na vida. E mesmo assim, tudo o que eu queria era repetir a dose. Era mais uma vez amar ele. 

- Eu queria poder abraçar você até isso passar.

- Mas não pode, você nem ao menos pode me dizer algo racional, além de me ouvir. Certo? Parece que não tem mais espaço suficiente para falar sobre os danos que esse amor me causou. Você acha que vamos superar?

- É bem possível, já ouviu histórias assim antes. Não somos excessões.

- Bem que poderíamos, poderíamos ser aquele amor que parecia que ia dar errado, mas o mocinho volta e confessa que não pode viver sem ela e eles se beijam na chuva.

- Aí que tá… ele pode viver sem você.

(Silêncio)

- eu sei. Eu sei que ele pode viver sem mim.

- É o que ele tem feito, afinal. Ele já ligou? Já mandou mensagem? Já disse que tava com saudade?

(Silêncio)

- Eu não entendo a sua necessidade de dar mais do que pode receber. E para quem não vai retribuir.

 (Silêncio)

- Quando vai aceitar que hoje é um dia a mais sem ele, pra ele também? Ele tá vivendo a vida dele, talvez ele tenha se apaixonado de novo, quem sabe? 

- Dói saber que eu sou substituível. Eu sempre fui.

- Porque você escolhe as pessoas erradas para amar e pessoas erradas vão te substituir pelas certas para ela, só assim você ficará livre para encontrar as suas certas.

- E até lá? Eu aceito que ele beija outros lábios? Aceito que ele se diverte sem mim? Vive bem sem mim? Não fala de mim?

- Meu bem… o que você tem feito até agora se não sobrevivido a isso?


- eu e minha consciência em algumas noites.

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