Será que um dia ele vai saber que eu chorei por três semana seguidas? Que felicidade para mim era um mundo ideal em que eu não existia, será que um dia ele vai saber que eu chorei sozinha em uma cidade que eu odiava, porque meu pai estava morrendo lá dentro? Será que um dia ele vai saber que eu não podia mais comigo mesmo, não pertencia, não era escolhida, não era amada, não era entendida e ainda assim eu entendia, porque eu sempre fui tão detestável. Ele vai saber que eu sempre tenho pesadelos da ligação ecoando me dizendo que meu pai tinha morrido? que minha avó tinha ido também? que eu nunca seria ninguém?
Será que ele vai saber que com toda minha ambição, foi para isso que eu nasci? Para não ser absolutamente ninguém, de ninguém, amiga de ninguém, preferida de ninguém, a minha família me detesta, sempre falam mal de mim quando não estou, o cara que eu amava partiu meu coração, alguns dias eu era difícil demais de lhe dar, eu não queria falar, eu não tenho amigos para as sextas a noite, nem consigo manter um grupo on-line de conversa com eles, porque eles não existem, eu não consigo ser amigável, na maioria dos dias eu sou minha única companhia e eu sou detestável.
Minha terapeuta diz que é a bipolaridade, que tá tudo bem, que é coisa da minha cabeça, que eu não pense demais, mas como posso não pensar? Será que um dia ele vai saber que as minhas últimas palavras para minha avó foram: Não feche os olhos, não durma, olhe pra mim. Enquanto o coração dela parava e parava e ia parar para sempre. Ele nunca vai saber, porque ele nunca passou por isso. Ele não vai sentir minhas dores de ser detestável, porque ele nunca foi odiado, ele não é odidado o tanto que eu me odeio todos os dias cinza, em que é cansativo me levantar e ver que eu ainda sou eu.
Ele nunca vai saber do peso que minha mente tem na minha cabeça, porque a dele é leve, ele nunca se odiou tanto assim, ele nunca pensou em matá-lo só para ter silêncio, só para não pensar tanto, ele tem muito, ele nasceu amado, escolhido, adorado... Ele nunca vai saber o peso que é tentar ser algo e nunca ser nada, porque eu sou nada.
