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Nós costumávamos ser amigos, certo?


 - e então foi quando eu decidi que não ia me apaixonar mais. - ela falou por fim, jogando o restante da rosquinha de lado.

- Você percebe o quanto isso é cruel comigo? - ele sorriu meio tímido, meio decepcionado, meio intrigado, porque ele não conseguia ser inteiro de certeza ao lado dela.

- não é nada pessoal, você parece ser legal. Você é gentil, doce, inteligente e… tá bem, você é bonitinho. - ela sorriu fazendo bico. - um pouquinho só, não se ache.

- Rainha do elogio, como não se achar? 

- Mas…

- Vamos para o “mas”

- Mas, eu não sei se conseguiria outra rejeição.

- Rejeição? - silêncio - eu venho dizendo a você que gosto de você, eu te elogio, eu te indico coisas legais, porque quero que você conheça o que eu conheço e sei lá, goste também e tudo bem se você não gostar, porque eu não imagino gostando menos de você por isso, na verdade, posso até gostar mais ainda se você for a garota rebelde do contra que não gosta das coisas que eu gosto, quer tentar assim? Vai em frente, parta minhas opniões, quebre tudo que eu empilhei até agora, não me importo, seja rebelde, manda ver, eu aguento.

Ela sorriu

- Não é assim que funciona. - olha para baixo e respira fundo - Olha, o primeiro garoto que eu gostei começou a namorar outra garota sem nem ao menos nunca olhar para mim, ok, quem pode culpa-lo? Eu nunca me declarei. O segundo garoto, você já sabe, olhos azuis, sorriso de lado, áurea de anjo, meio aqui, meio ausente, meio para mim, meio para ela, meio verdade, meio tanto faz, sumo hoje, apareço em alguns meses, me supere se for capaz. Merda, vamos para o terceiro… perfeito, me viu, me olhou, ele namorou comigo, ele disse que me amava e aí parecia que ele me odiava, os amigos dele pareciam mais interessante, a TV parecia mais interessante, minha vida parecia mais interessante, menos eu, o quarto e último dessa lista desastrosa, ele me diz “obrigada por entrar na minha vida e não desistir de falar comigo” e então ele me expulsou, não, não só isso, ele um dia foi dormir e no outro decidiu jogar minhas malas para fora e trancar a porta, ele convidou alguém novo para fazer parte da vida dele, na verdade, ele não trancou minhas coisas do lado de fora, o apartamento era meu e as expectativas também, ele foi visitar, chamei ele para morar lá e um dia ele não amanheceu mais, tinha outro apartamento mais interessante, mais bonito, mais confortável e mais disposto… mais, não sei, mais tudo que eu não consegui ser, quer dizer, que um apartamento poderia ser. Obrigada por entrar na vida dele? - ela gargalhou fraco - que bela forma de agradecimento, eu deveria ser o papai noel ou Jesus, sempre fazendo tantos favores sem um “obrigado”, joga a coroa de espinhos nela e coloca ela para carregar tudo. Nossa… desculpa, foi péssimo exemplo usar Jesus, me sinto péssima agora, isso não chega nem perto do que Jesus viveu, não se preocupe, eu vou ter uma autorreflexão religiosa mais tarde

Ele riu e balançou a cabeça 

- eu amo isso em você, você é completamente incoerente e acabou de fazer alusão da sua vida amorosa desastrosa com Jesus e papai noel na mesma frase. Você é um ser extraordinário.

- E mesmo assim, vai dar errado. Eu poderia dizer que eu vou quebrar seu coração da forma que você quer que eu quebre seus ideias, mas, pelo meu histórico, eu tenho a capacidade de te transformar em um ogro e você partir meu coração em mil pedaços.

- Em mil pedaços? - Ele se aproxima do rosto dela. - Ainda há tantos assim?

- Acredite, há farelinhos meu por toda parte. Então, há mais deles guardados para quando você achar uma garota mais legal, mais bonita, mais inteligente ou quem sabe para quando seus amigos te chamarem para beber fora em um dia que deveria ser importante para mim, melhor, para quando você olhar nos meus olhos e simplesmente mentir que eu sou a única em sua vida, me convidar para sua vida e depois me colocar para fora sem nenhuma explicação e me fazer questionar todos os meus passos e palavras perto de você que te fizeram chegar a essa decisão. Eu não quero te transformar em um idiota, não quero que seja um, e se o problema não estava neles antes, então, meio que está em mim? Eu transformo eles em idiotas? Deve ter alguma explicação, porque as coisas são terrivelmente errado quando se trata de mim, certo?

-Deve ter mesmo uma explicação.

- isso - olha para baixo. - sabe qual a melhor parte disso? Quer dizer, depois do olho vermelho, bloquear nas redes sociais, ouvir música triste, salvar frases diretas no Pinterest, escrever em um blog que na minha cabeça é totalmente anônimo? É que eu continuo acreditando no amor romântico, claro que eu não acredito nele comigo, somos inimigos declarados, ele me odeia e eu nunca o suportei, digo, de um tempo para cá eu não o suporto, mas acredito que ele anda por aí batendo em portas distraídas e que tem dado certo. 

- por que você não consegue ver ele parado aqui? Agora! Bem na sua frente. Pedindo uma única chance?

- É. - pegou sua mão. - Eu definitivamente te transformaria em um idiota e essa nem seria a pior parte, a pior parte é que eu me odiaria por isso, mesmo que eu fosse a única sequela no final, não, quer saber do que mais? Você me odiaria. Você acordaria um dia e diria “mas tudo isso foi culpa dela, ok, eu errei, mas ela me fez errar” e então você me odiaria. Não, eu não poderia conviver com isso. E sabe por que isso aconteceria? Porque eu não sei amar direito, eu tenho uma ideia meio distorcida de livros de romances feitos para meninas de 13 anos, eu tenho o senso de julgamento de uma criança depois de uns dias sem os pais, eu provavelmente não sabia amar você. Melhor ainda, vamos começar com: eu não saberia dizer que amo você, porque às vezes que eu falei sobre amor, eu não sentia de verdade, eu respondia e então eu sentia: ah, ok! Ele acreditou? Bom, acho que é assim mesmo, a sensação é essa mesma, o amor eu encontro no caminho. Eu não sei amar, não sei falar sobre isso e eu também não sei escrever sobre isso.

- você está sendo…

- Egoísta? - interrompe. - Dramática? Intensa? Ansiosa? Sim, e isso seria nos meus melhores dias. Imagine os piores? Aqueles dias em que eu odeio o que eu vejo no espelho, em que eu choro desesperadamente porque tenho dores morando em partes que dores não deveriam morar, os dias em que eu escrevo chorando pelas mãos, em que eu falo para mim mesma que eu sou insuportável e ninguém deveria ter que conviver comigo e ah… ah, agora faz sentido o quarto garoto ter me deixado, faz sentido o terceiro ter me trocado, faz sentido o segundo nunca ter se contentado só comigo e faz sentido o primeiro nunca, nem uma mísera vez, ter olhado na minha cara.

- eu cansei de fazer você tentar olhar que eu estou aqui.

- essa é uma das piores partes, eu sei que você está aí, mas eu não consigo te amar do jeito que você quer, do jeito que você precisa e do jeito que você merece, então… minha resposta é “não” e vai continuar sendo não para os meninos depois de você, para você e para qualquer pessoa. Eu… não consigo mais lhe dar com o fato de escrever sobre pessoas que não conseguem me amar, tipo, verdadeiramente me amar sem que tudo acabe em um desastre depois, sem que eu acabe me sentindo um cocô no final, sem que essa pessoa acabe me odiando por ter feito ela se tornar horrível. Eu quero que você ache alguém legal e alguém que não vá fazer você acordar daqui uns meses perguntando o que você se tornou, porque você está ótimo como você está e a pessoa certa não vai fazer você acordar com essa sensação um dia. Essa pessoa não sou eu, você entende?

- Então, não vai sair comigo? - ele puxa a mão para longe da dela e olha para baixo impaciente.

- não.- limpa a garganta. - Eu não vou sair com você, mas eu não sei como dizer isso sem te magoar, então, vou dizer que: “é, vamos ver”

Ele solta uma risada pelo nariz e se levanta

- É aí que você perde, eu espero que saiba disso. - ele diz antes de se afastar e deixar ela sozinha.

- eu sei, eu sempre soube. - cochicho, porque eu não consigo amar ele como ele me ama e ele nunca mais falou comigo e isso dói.

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